– Não é verdade...
Alice inclinou a cabeça e me encarou com um olhar que gritava claramente um “eu não acredito em você”. Dei de ombros, já fazia um bom tempo que não me levavam a sério quando falávamos sobre isso.
– Você não está sendo sincero! – Continuou ela, que tentava demonstrar segurança em seu julgamento, como se isto bastasse para funcionar como uma verdade absoluta – Clark, você a amou por todo esse tempo, só não quer falar que ainda gosta dela por orgulho, para mostrar uma pseudo força, e dizer que conseguiu esquecê-la!
Percebi então que nada a calaria, exceto se eu levasse à discussão argumentos para mudar sua opinião. Por um momento pensei em simplesmente exclamar um “você está certa” e partir para a lanchonete mais próxima, meu estômago clamava por comida. Mas resolvi valorizar a opinião dela, e dessa forma lutar para que ela mudasse sua postura. Ela não estava exatamente errada, devo confessar que não é fácil extinguir o amor não correspondido que sente por alguém. Mas eu estava lutando contra isso, e se pouco me engano sobre mim, estava conseguindo vencer. Coloquei as mãos no bolso como um hábito meu, encarei as árvores ao meu redor, passeei o olhar pelo céu, e os recaí sobre a face pálida e bela de Alice, que mantinha sua postura séria e intimidadora, encarando-me com as mãos na cintura.
– Bom... – Foi como comecei minha fala, tal expressão parecia me ajudar a decodificar e dizer o que penso da melhor forma possível – Procurei por todo esse tempo uma alternativa para esquecê-la... E descobri que a cura para um amor não correspondido é um novo amor. Se for isso que deseja que eu diga, tudo certo, eu digo que ainda sinto algo por ela. Mas agora creio estar conseguindo amar outra pessoa, e por isso posso afirmar que estou a esquecendo. Assim me sinto bem.
As palavras não foram disparadas como um turbilhão de pensamentos, pelo contrário, havia conseguido falar com calma e coerência, e Alice parecia espantada com minha resposta um tanto racional. Na verdade, até eu me encontrava assustado com o que falara. Ela pediu sinceridade e recebeu a minha mais franca resposta.
– Uau. – Exclamou ela, enquanto esfregava uma mão na outra, olhando para seu próprio pé, possivelmente formulando a continuação de sua expressiva reação monossilábica – Então... eu poderia saber quem é a pessoa que está amando?
Confesso que esperei – em poucos segundos – diversos tipos de reação que ela poderia ter, que variavam desde discursos moralistas a um abraço para provar que me apoiava. No entanto, isso eu não esperava. Recuei dois passos, como se a pergunta tivesse uma força de repulsão sobre mim.
– Mas Alice... eu... nossa, eu.. Alice!
Eu tinha a consciência que soltava palavras sem nexo, e minha voz hesitava. Alice riu prazerosamente, parecia que aguardava um momento de vulnerabilidade minha desde o início de nossa conversa.
– Clark, você é meu amigo há muito tempo, sabe que pode confiar em mim! Vá logo, me conta! Quem anda tomando posse de seus pensamentos e de seu coraçãozinho fofo agora, hein? – Disse ela, com uma malvadeza pueril que só se pode encontrar na Alice.
Olhei para os dois lados, e prendi minha atenção a um pássaro que se atirava dentre os galhos de uma pequena árvore. Talvez eu não tenha uma explicação coerente e plausível para isso, mas naquele instante ele me ajudou a encontrar em minha cabeça uma resposta sagaz, que muito bem servia como uma válvula de escape.
– Você, Alice! Estou conseguindo esquecê-la porque estou me apaixonando por você agora. – Eu disse, com a expressão mais séria que pude explorar em minha face.
– Oh.
Alice empalideceu. A garota, muito branca já de natureza, lembrava agora o branco do gelo encontrado no pólo norte. Percebi também que não respirava, e seus olhos - mais abertos que os de costume - encaravam meu rosto. Embora a relatividade do tempo não me permita ser preciso agora, imagino que se passaram uns dez segundos onde me contive friamente para não rir daquele semblante espantado dela. Mas não resisti, e me desmanchei em risos, rindo alto.
– Essa foi boa, confessa? – Eu disse entre os risos, apoiando-me no ombro de Alice, enquanto inclinava minha cabeça para rir.
Aos poucos a respiração de Alice voltava. Junto com ela, poucas risadas sem graça vinham, enquanto a garota começava a tentar esboçar as primeiras palavras após o choque.
– Mas você, hein? – Disse ela pausadamente, balançando a cabeça em sinal de negação, apontando o dedo para meu rosto – Assim, você me mata!
– Foi uma brincadeira, Alice, uma inocente brincadeira. – Conclui, dando três ou quatro passos para trás. – Bom, tentarei evitar morrer de fome agora, vou me alimentar de algo! A gente se encontra mais tarde?
Ela demorou para responder. Ainda não havia se recuperado totalmente da brincadeira.
– Ah, claro. Eu te procuro no jardim.
E com um aceno me despedi dela. Alice continuou parada dentre as árvores, e não parecia disposta a se mexer. Pensei se não havia exagerado na brincadeira, se de repente aquilo ia contra as leis morais de relacionamentos. “Não, foi a melhor saída, ela jamais poderia saber de quem gosto!” - tentei me convencer.
Mas naquele dia mal conseguia dormir. Com o rosto colado no travesseiro, apenas me passava na cabeça que Alice sentia-se frustrada por algum motivo. Que seu sorriso sem graça seria apenas o fruto da decepção de uma brincadeira que poderia ser verdade.
“Ah, que tal calar esses pensamentos, seu megalomaníaco?”, briguei comigo. E por fim, fui derrotado pelo sono.
5 comentários:
*-*
adorei *-*
genial!
Se nada der certo, vira roteirista de cute RPG!!!^^
hsuhsaushusahsusa
Con-con-congrats!
HAUSHAUSHAUHSUAS
obrigadooo gente! *-*
cute rpg comanda!
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