sábado, 28 de fevereiro de 2009

Os Fantasmas Da Madrugada - Aprenda a voar

E a plena escuridão que acompanhava meus passos.

Escuro como o universo, como o medo personificado (e metaforizado) em um corvo, como meu quarto à meia noite, como o brilho dos olhos fechados.


“Tudo bem. Eu adoro o escuro” – repeti alto para mim, prosseguindo com a caminhada.

Ensinaram-me a olhar para os lados. Ensinaram-me a olhar para trás. Mas eu só queria olhar para frente, pois sabia que era nessa direção que eu encontraria algo, era nessa direção que minha existência em um lugar escuro faria ou não um sentido. Era como andar desprevenido e correr algum risco. Mas como viver olhando para trás? Eu sabia que deveria seguir, que não iria me arrepender. Instinto, inconsciência, necessidade. “Apenas siga em frente”.


Então um brilho, uma luz. Um ser já conhecido em meus sonhos, um anjo em corpo de mulher, com asas que brilhavam e refletiam em meus olhos não somente a pura luz que os livros simbolizam como a salvação e o conhecimento, mas refletiam em meus olhos o verde de uma esperança e a chama de uma alma com vida. E ter vida não é apenas perambular com um corpo por uma praça. Ter vida é viver. E a luz de suas asas, de sua face angelical, de seu sorriso tímido, trazia a mim justamente isso... vida!


Eu não precisava fazer nada. Poderia me sentar no chão e apenas admirá-la, apenas ver a beleza dos anjos de perto, e respirar o ar das flores e dos sonhos. Já havia feito isso antes. Ora a encontrava correndo, ora a encontrava em um caminho nublado, ora a encontrava se escondendo de mim. Da última vez, havia encontrado-a parada, como agora, e minha ação fora aquela, parar e admirá-la. Tão próxima, tão bela. Não sei medir quantas horas fiquei parado na frente dela. Talvez seja porque não se mede horas em sonhos.


E agora, ela parada diante de mim novamente. Ter andando em frente havia, uma vez mais, valido a pena. Mas desta vez não me contive em apenas olhá-la. Algo que trazia de outro mundo fez com que eu falasse. Algo que se segurava dentro de mim, e saiu como um tiro.


- Pode rir de mim agora. É justo. Eu nunca faço nada direito.


E ela, ainda imóvel, imponente a minha frente, apenas com os cabelos esvoaçando sob um vento que soprava somente a ela, moveu seus lábios a falar:


- Rir é uma arte. Você deveria tentar. Apenas abra seus olhos. E ria comigo.


Sua voz de anjo soprou em minha mente como a mais bela brisa de uma manhã de primavera em um quadro pintado a mão com as mais belas cores do universo. Já havia falado comigo antes, há muito tempo. Já não me lembrava mais como era boa a sensação de ouvi-la.


- Meus olhos estão abertos. Por que... – minha voz falhou – sempre... dizem... isso?


- Se estão abertos... por que não notas que minha mão está estendida a ti?


E estava. O olhar com o qual me fitava, sua mão estendida, e o inebriante ar perfumado ao meu redor, impediram-me de tomar qualquer ação consciente, se é que esta existe em um mundo dos subconscientes e fantasmas. Então, segurei sua mão.


E tudo girou. E tudo mudou. Cores e paisagens surgiam de todos os lados e direções, organizadas dentro da desorganização. O vento que antes soprava apenas a ela, agora soprava para mim, trazendo-me cheiros e emoções inimagináveis, indescritíveis, como se todo perfume das rosas entrasse em perfeita sincronia com o ar da nostalgia e aquela alegria melancólica que acompanha meu espírito. Música, havia música, e embora eu não a reconhecesse, ela cantava em meu ouvido trazendo toda aquela esplendorosa sensação que apenas uma música consegue trazer. Estava aprendendo a voar. Eu não sabia se poderia resistir muito mais tempo. Sentia meu coração pulsar, e cada hemácia de meu corpo percorrer minhas veias em uma dança única, como se um grande espetáculo musical se manifestasse em cada ponto interno de meu corpo.


Uma vez mais, minha vida fora desse mundo veio-me à cabeça. Eu tinha a plena consciência que os acontecimentos do lado externo do mundo dos fantasmas andavam em perfeita sincronia com os fatos que vivenciava naquele plano. Acreditei naquele instante que toda minha insegurança, meus problemas, minha incapacidade de me achar capaz, que tudo estava resolvido, que eu estava pronto para respirar alegria para sempre.


Então acordei.





Mas a música não havia parado. Eu ainda sentia o perfume das rosas. Ainda enxergava as cores. E, embora tremesse e suasse, pude fazer o gesto mais simples e puro que se pode realizar enquanto vivo...


Sorrir.

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Encontrei por aí...

Sempre alguma foto aleatória que encontrei perdida entre as "minhas imagens" do meu computador, e que eu simplesmente não lembrava que existia... =D



Da série: "Tirando foto com o inimigo".